sexta-feira, 13 de março de 2009

Os dois conversavam, a beira do abismo.

Ela:
Vamos, é só pular!

Ele:
Não sei... não consigo ver onde isso vai dar.

Ela:
Mas essa é a graça. Pode ser uma ótima surpresa. A gente nunca sabe pra onde vai. So descobre quando chega.

Ele:
Não sei... Tenho medo de arriscar

Ela:
Mas a gente arrisca junto. Vem, me da a sua mão!

Ele - se afastando da beira:
Eu sei. Junto... É que... faz um tempo que estou pra te dizer isso. Acho que você está mais nisso do que eu, entende?

Ela - se afastando também:
Como assim? Do que você está falando? A gente não ta junto? Achei que você queria...

Ele:
Queria, mas... Você sabe. Eu pensava que podia ser uma coisa assim...mais segura. Entende?

Ela:
Segura? Você vive dizendo que quer uma aventura. Alguma coisa nova, excitante. Se quer esse tipo de coisa tem que se jogar.

Ele:
É, talvez tenha razão, mas você me conhece. Eu gosto de ter certeza que vai dar certo. Não é você. Adoro você! Amo você! So que... me jogar assim? Sabe o que eu quero dizer?

Ela pega uma pedra, sente seu peso e caminha ate a beira do abismo. Olha para baixo, joga a pedra e observa sua trajetória. Seu pé escorrega e ela, assustada, da 3 passos para trás.

Ela:
Acho que sei. Sei o que quer dizer.

Ele
Mas talvez seja esse o momento. Eu vou ter que enfrentar esse medo um dia. Talvez seja aqui. Agora. Com você! Vamos, vamos pular.

Ela
Não sei... não consigo ver onde vai dar.

Ele
Vamos, vamos pular! Me de a sua mão. A gente pula junto. Você tem razão. Não da pra pensar muito. É pra se jogar. Vem!

Ela
Acho que não. Não!

Ela vai embora, andando na direção oposta ao abismo. Ele fica.

(Na versão do diretor ela se irrita e o atira abismo abaixo.)

quarta-feira, 11 de março de 2009

Despertou. Sentiu o aroma particular daqueles dias. Sabia que o riscaria em esquecimento no seu calendário mental.
Alguns dias simplesmente nascem para o canhoto. Pensou, "Será mais um dia daqueles". Sentada agora na cama disse em voz torta "Será mais um dia daqueles".

Levantou. Caminhou até o banheiro. De frente ao espelho deu bom dia. Disse em voz infame "Até parece!" Riu da desgraça que estava por vir. Lavou o rosto com pasta de dente. Escovou os dentes com pomada. Penteou seus cabelos com a escova de dente.

Encarou as roupas no armário. "Vestido?", questionou. Só para os dias de morangos. Não queria preto porque tinha muita personalidade. Amarelo? Infame. Camisa? Só para acompanhar a gravata de alguém. A calça, aquela mais velha, que já passou por alguns carnavais e outras primaveras. Veio acompanhada da camiseta. Bege. Nunca havia percebido o bege tão expressivo. Sentiu um tom satírico que considerou adequado.

Sentou-se. A cadeira rangendo reclamou. Irritou-se e falou "Não amole!" Pensou... "Não me amole, bolas."
Calçou seu tênis. Agarrou os cadarços e, tentando fazer um laço, emaranhou-se. Tentando desfazer os nós piorou o entrelaçado com o cadarço do tênis vizinho. Quando já era impossível somar outro nó, terminou.

Levantou. Foi dar o primeiro passo e caiu. Pensou "Não me pertenço".
Suspirou.